sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Getting back to go forward

"Para continuar caminhando em frente, às vezes é preciso recuar alguns passos."

Nunca consegui aceitar muito bem esse dito popular. Na minha cabeça, o progresso é one way only e, poxa, ter que recuar quando o que se mais quer na vida é chegar a algum ponto nos deixa, no mínimo, frustrados. Ora, como é que eu vou chegar no ponto de ônibus a tempo de embarcar se antes vou ter que fazer um moonwalk, dar uma rodadinha, e depois continuar? Não faz sentido, né? Mas faz.

Me peguei pensando no processo de desenvolvimento de uma borboleta. Sem a licença poética da coisa. Veja: ela nasce livre. Uma larva que pode saracutear pelas folhas e se empamturrar com o que quiser. Sobe, desce, conversa com as irmãs e reza para um pássaro ou outro predador qualquer não escolhê-la pro jantar. A folha é a zona de conforto da nossa amiguinha. Ali ela tem tudo o que precisa para viver: comida e uma relativa proteção. É o cenário perfeito, não é?

Ok, agora tira o zoom. Existe um mundo inteirinho que rodeia essa folha segura e tentadoramente confortável. Árvores, bancos, chão. Uma imensidão! Uma vastidão desconhecida. Um sem fim de caminhos a seguir, a explorar, a descobrir. Mas, infelizmente, nossa querida larva não pode usufruir desse mundo. Afinal, sua locomoção é péssima, os perigos são enormes e os caminhos muito, muito compridos.

Até aí, tudo bem. A vida de todo e qualquer ser vivo tem suas limitações. Pode ser que esse mundão todo realmente não seja feita para a larvinha. Daí que, de repente, ela vê uma linda borboleta azul, brilhante e imponente, rasgar um casulo e voar por toda essa imensidão. 

Opa! Peraí! Como ela conseguiu?

Subitamente, a larva percebe que aquela imensidão toda não é, necessariamente, uma coisa impossível de se alcançar. Com as ações certas e as ferramentas adequadas, ela pode, sim, ganhar tudo aquilo que está em volta da sua leaf-town. E aí a coisa fica complicada. A larva gosta de ser livre. A larva gosta de andar pelas folhas com suas irmãs e comer muito, até rolar. A larva gosta daquela emoção de não saber quando vai ser seu dia de azar, quando pode virar comida de pássaro. Mas, para ganhar suas asas coloridas e 'voar pelos caminhos mais bonitos', ela vai precisar abdicar disso. É um sacrifício necessário para a liberdade. Liberdade? Se isso é a liberdade o que a larva vive nesse momento. Ué. Não é, também, a liberdade? Não. Não mais. Saber que existe o desconhecido e que ele é perfeitamente alcançável tirou o status de liberdade da vida da larvinha. A folha, antes confortável e plena dos recursos necessários para uma vida feliz, tornou-se agente limitador, um pedaço de chão verde e pronto. E as irmãs nem são tão legais assim. Elas já não são interessantes o suficiente para justificar a estadia dela. 

Então a larva decide retroceder. Decide se aprisionar. Abdicar de tudo o que sua vida de gordinha fanfarrona gozou até agora. E isso é um retrocesso porque, sabemos, ela já esteve presa em um ovinho antes de nascer. Sabe Deus as transformações que acontecem dentro daquele casulo. Mas aquele momento de isolamento total faz com que a larva cresça de tal maneira que ela desenvolve antenas para sentir melhor o mundo. Ganha pernas para ser mais ágil e permanecer em lugares irregulares e, principalmente, ganhas asas. Lindas e coloridas asas que podem levá-la a lugares nunca antes vistos. Sua aparência mais ostensiva faz o pássaro e todos os outros predadores perderem o apetite. E seu único medo, agora, é que sua vida efêmera não a permita conhecer toda aquela vastidão que agora se abre na sua frente. Ela só não sabe que esse mundo novo oferece novos perigos, novos predadores e faz parte, se a gente tirar ainda mais o zoom, de um universo mais vasto, maravilhoso e inexplorado ainda!

Mas isso não importa por enquanto. A larva viveu feliz por um tempo. Deu-se conta de que tinha mais coisa lá fora. Teve a coragem de retroceder e sair da sua zona de conforto. Se sacrificou para ir em frente e, convenhamos, isso é um belo exemplo de que para seguir em frente, às vezes é realmente necessário dar uns passos pra trás.

Vai saber se o moonwalk e a rodadinha que eu vou precisar completar não me façam perder este ônibus, mas me permita chegar a tempo de pegar o próximo, mais vazio e com ar condicionado?

Pode ser que o leitor esteja pensando que essas linhas aí de cima são muito genéricas e bobas.

Mas uma das poucas certezas que eu tenho nessa vida é de que nós, seres humanos, estivemos presos antes de nascer, vivemos em uma zona de conforto, fugimos de predadores diversos, descobrimos um mundo cada vez mais vasto e nem sempre alcançável. 

Ora, já vi essas história antes!

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